quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Ensinar Filosofia?



Este texto tem por objetivo comentar o conteúdo do livro Uma Introdução ao Ensino da Filosofia de Guillermo Obiols, e assim, percorrer alguns temas tratados pelo autor que têm um enfoque central em sua obra, para que surja uma reflexão sobre o ensino da filosofia. No entanto, o que enfocaremos neste não será o desenvolvimento da filosofia na história da humanidade, nem tampouco ficaremos recorrendo ao modelo tradicional da filosofia para colher respostas, mas ao contrário, iremos abordar o que percebemos de central na obra citada.

Obiols começa seu discurso sobre o ensino de filosofia recorrendo à história da filosofia a partir da Idade Média, perído em que surgiram às primeiras universidades, deste modo ele trata das formas que a filosofia foi ensinada e até em que cursos ela aparecia com o fim de ser estudada academicamente. Assim, ele prossegue pelos antecedentes europeus até chegar à filosofia na América Latina.

Após este percurso histórico da filosofia, ele enfim, chega ao debate sobre o ensino de filosofia no ensino médio, que toma como referência os antecedentes históricos, tanto do desenvolvimento da escola quanto do ensino de filosofia propriamente dito. Seu debate é sempre acompanhado de citações de outros autores e do referencial histórico do ensino, mas com o objetivo de contextualizar o discurso a cerca da filosofia como disciplina e como pesquisa cientifica, que tem como meta indagar as questões tidas como fundamentais para o pensamento crítico.

A partir do momento em que Obiols trata da dicotomia entre aprender filosofia e filosofar, o debate torna-se entusiasmante, pois aqui ele refaz o tema tratado por Kant, Hegel e outros filósofos que se debruçaram sobre este problema dual. é sobre este ponto que temos algo a explanar, pois o ato filosófico quase que sempre se esbarra neste problema dual, em que alguém posa de fato fazer filosofia e ao mesmo tempo ensinar filosofia.

A este problema Obiols dá uma reconstrução a partir do momento em que relê os textos dos filósofos esclarecendo o que realmente fora dito por eles, e em que sentido Kant, Hegel e os outro entendiam o fazer filosofia e o seu ensino. Neste instante da leitura do livro, veio até mim uma lembrança a cerca do tema, quando na ocasião me encontrava no 3º período de filosofia e de maneira ingênua debatia em sala a questão sobre aprender a filosofia, defendendo a posição de que se pode aprender filosofia. Então uma colega do 5º período que fazia a matéria junto comigo riu ironicamente e disse: “não se aprende filosofia, mas apenas a filosofar”; em contra partida eu disse: “se não se aprende a filosofia, então o que estamos fazendo aqui?” E novamente a colega riu ironizando fazendo menção ao pensamento kantiano.

Apesar de pertinente esta ocasião, além disso, ela ilustra muito bem a predomínio desse problema e também o de uma corrente dentro da própria filosofia, que interpreta e defende que o ato filosófico de filosofar está separado do ato de ensinar ou aprender filosofia, mas Obiols não pensa assim, pois ele vê o fazer filosofia e o ensinar filosofia a partir de Sócrates, que além de filósofo, também ensinava filosofia e vise versa.

É sobre este ponto que Obiols passa a pensar uma metodologia e uma pedagogia que atenda aos problemas filosóficos, pois a conclusão de sua obra está centrada nos meios de ensino da filosofia a partir da possibilidade do professor poder filosofar com os alunos e ao mesmo instante ensinar a filosofia, é claro, propondo que o ensino de filosofia deve servir à formação de mentes críticas, indagadoras que investigam as questões propostas.

Também é óbvio que o problema do ensino de filosofia não se resolva tão simploriamente, até porque o desafio está no fato de ser filósofo e também ensinar a filosofia, pois o que sempre nos ocorre é a dificuldade de juntar teoria com prática, e quando se trata de filosofia isso toma uma roupagem cada vez mais problemática.

Aí o porquê de se pensar o ensino de filosofia a partir da própria filosofia, que tanto produz pensamentos quanto se questiona o que se é pensado. Assim, é imprescindível rever os métodos didáticos, o contexto do ensino, os objetivos pretendidos e os conteúdos necessários para o ensino, pois tomar como desafio o fato de ensinar a filosofia a partir da própria história da filosofia é tão legitimo quanto propor ensinar a filosofia através de conteúdos críticos que instigam o pensamento investigativo, sem que com isso seja necessário recorrer às respostas propostas pelos próprios filósofos que porventura tenham pensado algumas dessas questões.



Copyright(C) 2007 por Fabiano Lima Simor.
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